Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Respira

Fala pra Carolina que eu amo ela.
Que ela tem um cabelo bonito e uma esperança no olhar e nenhuma Guatemala vai trazer isso de volta. Só ela. Fala pra ela de todos os homens que nunca lhe Amaram. E de todas as mulheres que Amaram. E de todos os amigos que quiseram construir coisas, que lhe abraçaram quando ela chorou. De todos os shows que foi sozinha e os lugares que viu com os próprios olhos. e que podem me tirar de tudo e eu continuo aqui, crente que sou a menina que escrevia no chão da vó, que é boa com as crianças e que escreve pra desaprender o nó da garganta, que chora e escreve e vive. E desenha pra olhar as coisas com mais silêncio. Graças a deus. Que faz yoga e melhora a postura resolve as questões da hereditariedade. Que vai pra praia só pra Meditar. Que acredita na força e na adultez, na garra do irmão. Que acredita na força na adultez e na determinação da irmã. Que olha pra mãe com carinho, com zelo. Que olha pro pai com respeito e saudade. Que olha pra tia com felicidade pela felicidade dela. Que olha pra outra com admiração. Que não olha pra ninguém com dor no peito. Porque quando tem dor no peito não importa o resultado: só escreve e respira. Lê todas as coisas e gosta de olhar gravuras. Cuja melhor parte da vida é o agora. Mas que lembra com ternura o passado e o abraça, que não adoece de afetos porque eles são todos: eu. Tudo sou. Cada ausência cada nó sem fio cada falta de interpretação cada mal entendido cada vácuo e vazio no universo sou eu. Eu sou cada um desses silêncios que me botaram no mundo pra ver e não ouvir e não falar e não controlar e não sentir: sentir o nada todo junto. Ao mesmo tempo em cada palavra incerteza e montanha que eu vou subir. E tá tudo bem agora. Antes e depois do soluçar tem aquele minutinho de:
(Silêncio).

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