Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Cemitério de Elefantes

Perdoa-te os teus impulsos, os meus soluços. As urgências tão ingênuas. Perdoa os meus rabiscos, frente aos teus traços vistosos. Faz outro campo verde calmo e cria aqueles ventos balançando as calças claras de um juiz de pequenas causas. Se lembra quando você andava, amontoando os teus moinhos nos teus passos tropeçantes e se engajava em minhas pressas; como se meus minutos percorridos fossem os mais importantes. Amansa os seus cabelos em ondas gris como se a loucura das tuas falas fosse mero efeito cômico. Rememora todos os esforços dos amores que conquistara. Respira. Descansa. E ri de si como ri dos tempos áureos de muitos irmãos, antes de adentrar o cemitério dos elefantes, do qual tivera tanto medo. Escuta seu vazio e não te afugentes quando o sentido se perder no claro. Ria. Passeie pelas covas e dê teus passos longos, com essas pernas que não couberam neste prado pequenino de gente igual aos seus parentes. Mira a estrada de ferro e ria. E seus risos me ecoam por todo campo verde. Que agora se emoldura na sala de visitas do mundo dos seus tijolos e serviços. Que eu ainda não sei nada.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Quis quimera breve logo o mar se tornou cheio

Na casa de sete bruxas venusianas, de signos de ar, aplacou a convivência mundana, para que levitasse sobre o sofrimento eterno e terreno.
Lhe ajudaram pouco ou quase, fizeram com que sofresse um pouco menos e com que entendesse quase nada.
Ao final dos sete dias, cada um com uma bruxa, esperou que a solidão lhe invadisse a calma da ausência.
Foi arrastada à sua própria cama e condenada a viver com as sete bruxas dentro de si no mundo de terra em que brincavam as outras propostas de gente.
"Para que fosse mais leve" sussurrava o coro das sete bruxas talvez amigas.
Tornou-se louca.
Lesada pelas concomitantes discussões das sete mulheres que habitavam-na como pragas apodrecendo uma leguminosa, teve sua licença cassada e não pôde mais advogar a favor de coisa nenhuma.
Emitiu somente declarações nunca justificadas com sete palavras durante sete longos meses até empalidecer com a aparência.
Passaram-se sete anos e foi-se o corpo das sete velhas bruxas de dentro da flácida carne, de alma mais pesada e tímpanos tortuosos, exagerados de dialética, da errática e falecida mulher.

Retornaram à velha morada, abandonado o corpo de moça fraca.

E esperaram a próxima hóspede, que as carregaria entre as cavidades oculares pela próxima eternidade. Para que pudessem emudecer suas cabeças rangentes de bruxas cegas e fazer falar a mente de outra mulher. E fariam passeios intermináveis até que tivessem visto tudo, pela vista roubada de todos os olhos. Um dia entregariam-se inevitavelmente à morte execrável de sua cegueira até que a finitude da escuridão as emudecesse em loucura.