Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Queimam a Santa no Fogo Profano

Frio, gélido e cálido
Eres tão paciente
Possuis o rosto lupino
A pele tão morna
E desperto-me primaveril
Na bruma rodeada
De alvos jasmins
Pés de maçã, bétulas claras
E outras coisas calorosas.
Que me tornam mais
Pura aos olhos ternos
De minha mãe.
E queimam minha face,
A sua face.
Os nossos troncos
A minha relva, sacra
Na fogueira dos bons samaritanos
Aqueles que a ninguém feriram.
Silêncio em brasa.
A flora, em chama.
A mãe natureza permanece adormecida.
Soterrada por milhões de passos,
De colo empobrecido
Por seus choros ácidos
E suas gargantas, secas.
Descansa, nossa mãe de todos.
Fazes que celebremos em outra hora.
Esperamos o interrompido festim, calados.
Até que se consume o fogo
Na alma dos condenados.