Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

eu queria escrever sobre você pra sempre.





sobre todos os contornos que você desenhou em mim, durante todo esse tempo.
Ei, se você ainda tá aí me ouvindo

O amor ainda transborda e o corpo ainda me prende na insegurança das restrições.

Eu ainda te amo.

Eu lembro todos os dias com uma minúcia de detalhes aterrorizante quais eram as paisagens e os perfumes das nossas primeiras, últimas e intermediárias vezes.

Eu ainda amo o som da sua voz, o seu abraço que me sufoca mas me sustenta.

Eu ainda odeio as mesmas coisas que você já sabe.

Eu ainda me sinto perdida que nem sempre.

Eu ainda vivo mais na cabeça do que no corpo.

Eu ainda sinto a sua falta.

Eu ainda choro quando eu lembro que você não veio.

Eu ainda hesito quando vejo ou escuto alguma coisa que você gosta.

Eu ainda tenho medo das janelas altas porque não confio em mim.

Eu ainda lembro de tudo que você me fez e de tudo que eu te fiz e das palavras feias e das bonitas, a memória fica cada vez mais apurada.

Eu ainda tenho medo dos erros que eu nem cometi.

Eu ainda planejo coisas que eu nem vou viver, por excesso de planejamento.

Eu ainda tinha até algumas horas atrás o primeiro presente que você me deu, que era um Pato Donald que eu joguei fora porque achei que era muito sadismo guardar esse tipo de coisa.

Eu ainda tenho medo de voos longos de avião.

Eu agora quero aprender uma nova língua.

Eu estou tentando ainda sistematizar pensamentos que se embaralham porque eu sou a rainha das certezas e estou tentando ainda deixar de ser.

Eu ainda não consigo decidir.

O sentimento ainda é mais forte do que a razão.

Eu ainda amo você mas eu não sei o que faço com isso.

Eu engasgo pra dizer o seu nome em voz alta e eu tusso quando alguém pergunta de você.

A crise de bronquite que eu nunca soube que tinha já dura mais de um mês.

Eu ainda amo você.


http://totodenadie.blogspot.com.br/2014/04/marguerite-duras-o-homen-atlantico.html