Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A felicidade era musa

Eu descubro nos versos um jeito moderno de ver meu mundo de mim. E na prosa, talvez as marras, me punam: de novo.
Eu queria ter liberdade.
Eu queria ter queda livre.
Tenho sede de sangue nos meus morros de açúcar.
E
Me calo porque deito. Com medo. De escuro. De rua. De vento. De espaço. De sossego. De solidão. De medo. De quase um tudo que conheci nos meus olhos castanhos disformes.
Quero o medo do medo de mim. Pra fora.
Que susto. Passou.
Silêncio. Lá fora.
Sem nada.
Fica difícil ficar comigo.
Assim eu me canso e esqueço.
E guardo
O absurdo
Da tua voz que eu fiz em meu labirinto de pânico.

a maldade dos abacateiros

A grande maldade
Foi ter me feito enamorar por mim mesma
Sem nenhum perigo.
E quando caem abacates no telhado de vinil,
Eu não me lembro em que parte do mundo foi que te esqueci
E se esqueci foi remorso da vida
De outros carrascos
Em outros barrancos
Onde vivem e crescem árvores nuas
Sem pena nem medo sem viaduto nem chá
Sem São Paulo e parentes
sem vida minha antiga
não posso nunca mais te deixar sozinho.

Que você se joga junto
e eu caio de pé
quebro os joelhos
e morro vazia.

Volta.
E deita comigo.