Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

sábado, 30 de abril de 2016

graças a deus

Talvez eu só escreva mesmo em ausências.
Sentindo-me sólida, vasta de solitude.
Talvez deva-me mandar embora até a Patagônia onde os cigarros são frescos -- ei, tens algum cigarro?
Talvez eu deixe o embarrado barranco de homens e a pútrida carne da minha virilha que não se dá mais ao gosto e que desgosta de tudo quanto é cor. Prefiro os marrons mas na falta concentro-me em vermelhos.
Repúdio às Poéticas aos conventos e às castas. De todos os gêneros, depredo, vejo-me a s s e x u a d a.
O último pinguinho de gozo foi de medo naquele escuro às avessas, contente por ser assaltada.
Mecanicamente não nego o sistema -- baseado em contato e atrito --, mas subjetivamente eu recusaria o calor pelo hermético vazio que se instala -- sinto falta da melancolia.

Do vazio.


Aquele cafezinho como proeza da bondade me deu arrepios, sonhei que era assediada, arrastada, punida -- acordei liquefeita, reduzida a suspiros. Queria perigo eu tenho a decência.

oláaaaaaa? Me solte, alvoroço, fantasia, ódio, ódio, ódio, afago, angústia, tesão.
Silêncio e tédio -- me satisfaço facilmente, adio a trágica solidão para meados de agosto, graças a deus.

Você só me fala de silêncio.
É triste.
Me fala dos reflexos de outras pessoas em você.
É pena.