Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

terça-feira, 10 de outubro de 2017

amorfa

eu ainda não consigo entender
de quais véus sou feita. obrigada joão pela palavra véus.


Preciso me expressar não tenho forças: preciso-não tenho

Sinto falta de um alguém que eu era que tinha algumas respostas

Agora sou algo mais disforme do que era antes

Eu pedi por não saber, não sou mais

A escrita tem um fim terapêutico, não me trará dinheiro talvez

Imersa nesse velho morno que me ampara em tempos difìceis

Será que eu fiz tudo isso para me restar escrever me escrever: restaurar.

Pontos finais são sempre edifícios? São sempre difíceis?

Me engajar em uma conversa de começo e fim é um pedido indeferido

Me deixar tamborilar pelo teclado é musical -- quando saem palavras

É difícil me confrontar com esse eu que se vê. Que se escreve. Que se tem no espelho.

Deparo-me confio-me. conflito-me.

Já pensou numa paixão tão grande que movimenta a vida toda a escrever





domingo, 1 de outubro de 2017

sem título

o nariz ta aqui, ainda grande.
a pele bem mais branca, as olheiras bem mas fundas do que gostaria
a sobrancelha disforme
o olho direito caído
o bigode, herança portuguesa
todos os pelos
os seios minúsculos
as costelas aparentes
os braços angulosos
a boca tensionada
o coração batendo
respirando
pelos saindo pelo nariz
ouvido coçando
os cheiros ruins
a assimetria
o pensamento
a dor de cabeça
a ansiedade, mais ou menos
os barulhos lá fora
o vinho

as respostas estão sempre escritas
a cura é sempre minha.