Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

quinta-feira, 12 de abril de 2018

poema sobre pronomes

a gente era novo demais pra se amar. a gente era novo demais pra se amar?
a gente era óbvio demais pra se amar. a gente era noivo demais pra se amar.
a gente era nóbvio demais. a gente era demais. a gente era a gente demais pra se amar? a gente era a gente pra se amar? a gente era o quê?
a gente era ou foi.
éramos agentes demais pra nos amarmos.
éramos novos agentes pra se amar.
a gente amava ser a gente pra se amar.
a gente amava o erro do outro demais pra se amar. a gente se amava demais pra se amar.
a gente amava ser novo pra amar.

cadê eu?

Mãe

a inteireza é minha,
não é tua.

o desejo de ser toda minha é meu, não é teu.

AI DE MIM, ela me disse.

o ódio roendo o peito, bem aos poucos. É pior assim, ela continua.
Do que morrer de amor todos os dias.

A mãe é minha, não é tua. Eu avisei.
E até hoje eu luto com o meu próprio colo pra farejar quem foi que sorveu por último o leite que ela não me ofereceu.

Dói, ser mãe de mim mesma.
Dói, abrir o peito e parir a mim.

Eu choro e o consolo vem de fora.
Do vento que encosta na face e rouba de volta o que nunca foi meu.

Dor, expressão passageira. De uma permanência inconstante que nunca desvaneceu.

Fazia tempo que eu não morava nos versos, ela termina.

A última vez foi naquele outro roubo que nunca esqueceu.

menos

Eu estou apaixonada por todos os homens que já me amaram e também por aqueles que não me amaram.

Eu me apaixono pela minha capacidade de me apaixonar. Eu me apaixono pelo sofrimento amoroso dos outros, e pelo meu próprio. E assim, continuo.

Eu queria entender, não sei se me tenho. Acho que quanto mais me tenho, menos me tenho.