Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Mãe

a inteireza é minha,
não é tua.

o desejo de ser toda minha é meu, não é teu.

AI DE MIM, ela me disse.

o ódio roendo o peito, bem aos poucos. É pior assim, ela continua.
Do que morrer de amor todos os dias.

A mãe é minha, não é tua. Eu avisei.
E até hoje eu luto com o meu próprio colo pra farejar quem foi que sorveu por último o leite que ela não me ofereceu.

Dói, ser mãe de mim mesma.
Dói, abrir o peito e parir a mim.

Eu choro e o consolo vem de fora.
Do vento que encosta na face e rouba de volta o que nunca foi meu.

Dor, expressão passageira. De uma permanência inconstante que nunca desvaneceu.

Fazia tempo que eu não morava nos versos, ela termina.

A última vez foi naquele outro roubo que nunca esqueceu.

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