Carolina de Jesus

Carolina de Jesus

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Cemitério de Elefantes

Perdoa-te os teus impulsos, os meus soluços. As urgências tão ingênuas. Perdoa os meus rabiscos, frente aos teus traços vistosos. Faz outro campo verde calmo e cria aqueles ventos balançando as calças claras de um juiz de pequenas causas. Se lembra quando você andava, amontoando os teus moinhos nos teus passos tropeçantes e se engajava em minhas pressas; como se meus minutos percorridos fossem os mais importantes. Amansa os seus cabelos em ondas gris como se a loucura das tuas falas fosse mero efeito cômico. Rememora todos os esforços dos amores que conquistara. Respira. Descansa. E ri de si como ri dos tempos áureos de muitos irmãos, antes de adentrar o cemitério dos elefantes, do qual tivera tanto medo. Escuta seu vazio e não te afugentes quando o sentido se perder no claro. Ria. Passeie pelas covas e dê teus passos longos, com essas pernas que não couberam neste prado pequenino de gente igual aos seus parentes. Mira a estrada de ferro e ria. E seus risos me ecoam por todo campo verde. Que agora se emoldura na sala de visitas do mundo dos seus tijolos e serviços. Que eu ainda não sei nada.

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