Carolina de Jesus

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Uma Criatura

Uma criatura pequena que morava na grama e vivia do canto dos outros. Se alimentava da luz da noite e embrulhava desejos em folhas, para se fazerem, com o mundo, um só.
Uma noite de estrelas fez a pequena criatura se esquecer de onde pusera os embrulhos. Se separou de seus desejos e se lamentou a cada segundo percorrido. Passou a matar vagalumes para redirecionar a frustração.
Um vagalume, ela pensava, era um arauto de esperança; uma luz que sempre brilha, imperdoável, no instante mais breu de uma consciência. Inconsequente.
Um dia de luz lhe fez vislumbrar os cadáveres luminescentes de vagalumes mortos pela desesperança de uma criatura pequena e frágil. Milhares de outros bichos a seguiram incessantemente pelo rastro luminoso, criado impiedosamente por aquela pequena criatura com raiva.
Uma criatura pequena e raivosa passou a desejar que os milhares de insetos inoportunos que a sufocavam naquele instante descobrissem outro alvo, menos atento. Sem querer, reencontrou os embrulhos de desejos em uma grama aterrada de vagalumes mortos. Bichos vivos continuaram a seguir a criatura e seus embrulhos novos.

Agora os embrulhos brilhavam; tinham restos de vagalumes incrustados em seus sonhos guardados.
Agora a criatura só os perdia quando queria achá-los.























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